O que está por trás da crise de segurança pública no Brasil

Não faz muito tempo, a Polícia Militar do estado do Espírito Santo resolveu entrar em greve. Pela TV, muitos de nós assistimos, chocados, o estado entrar em calamidade pública. 

Há poucas semanas, o mesmo aconteceu no Rio Grande do Norte. O que se viu era desolador: roubos, arrastões, tiroteios e centenas de pessoas mortas. 

Por que, afinal, situações como essa têm sido tão frequentes no Brasil? 

Por que aqui, diferentemente da maioria dos países do mundo, a violência vem crescendo a passos largos? 

O fato é que a população brasileira está pagando caro por essa crise de segurança pública. Alguns dos principais motivos disso são: 

Recursos – O Brasil gasta cerca de 1,5% do PIB com segurança pública – menos que a França, que tem problemas menores que o nosso e consome 1,7%. Especialistas afirmam: é preciso aumentar o investimento na área. Hoje, a burocracia, o sistema de repasse e o mau planejamento fazem com que o dinheiro, ao final, acabe sendo desperdiçado ou mau empregado.

Questão de foco – O conceito de segurança pública não existe na Constituição nem está escrito em qualquer lei. Essa falta de foco faz com que, no geral, a força policial tenha se voltado para uma guerra contra o tráfico de drogas, deixando de lado uma série de questões ligadas ao bem-estar da população ou mesmo à própria preservação da vida. A polícia não trabalha com prevenção, investigação e punição de responsáveis por atos de violência e criminalidade. Os nossos direitos básicos de cidadão são ignorados. 

Sistema penitenciário – As tantas rebeliões de presos que acompanhamos no noticiário são resultado direto da precariedade do sistema penitenciário brasileiro. O Brasil é dono da quarta maior população carcerária do planeta, com 622 mil detentos para apenas 371 mil vagas. Além disso, a gente prende muita gente por motivos banais – e essas pessoas, com delitos leves, acabam ingressando naquilo que os especialistas chamam de “a maior escola de crime”. 

Guerra entre facções criminosas – Outro problema sério no Brasil é a guerra contínua entre diferentes facções criminosas. Esses grupos, cada vez mais poderosos, têm dominado o sistema carcerário e estendido seus tentáculos para fora dele. 

Reformas que nunca aconteceram – Ideias que ajudariam a modernizar a polícia e a forma de lidar com segurança pública no país nunca saíram do papel. Nosso plano atual é de mais de 15 anos atrás. Especialistas dizem que há desconexão entre funções de diferentes órgãos – Ministério Público, delegacias, tribunais, etc., o que rende uma baixíssima eficácia institucional.

Falta de investigação – Por aqui temos uma taxa de resolução de homicídios de míseros 5%. No Reino Unido, para você ter uma ideia, chega a 93%. Há deficiência de pessoas, de investimento, de comprometimento. Para completar, há uma crise de confiança entre a polícia e a população.

Não perca POLÍCIA AO VIVO,  a nova série que irá acompanhar o trabalho das forças policiais em tempo real. Estreia segunda, 5 de Fevereiro, às 19h.

Fonte: BBC 

Imagem: Shutterstock