Condenada à morte por assassinato, ela desafiou a justiça, salvou a si mesma e a centenas de pessoas
Susan Kigula vem de uma família de classe média do interior de Uganda. Criada para ser uma “princesinha”, resolveu deixar tudo para trás e tentar uma vida independente em Kampala, a capital do país.
Foi lá que, com 18 anos conheceu aquele que viria a ser seu marido, Constantine Sseremba, dez anos mais velho que ela. O casal passou a morar junto e teve uma filha.
Por algum tempo, o casal teve uma vida tranquila e feliz, mas, em dado momento, algo mudou radicalmente.
No meio da madrugada, enquanto dormia, Susan despertou com uma perfuração na nuca. Assustada, viu que litros e litros de sangue ensopavam a cama – e não só sangue dela: seu marido dava os últimos suspiros ao seu lado, com o pescoço cortado.
Desesperada, Susan saiu em busca de ajuda. Como estava seriamente ferida, acabou desmaiando.
Quando acordou, horas depois, já no hospital, soube da terrível morte do marido. A filha do casal e o filho de Constantine, que também morava com os dois, não sofreram ferimentos.
Tudo indicava que eles haviam sido vítima de uma tentativa de assassinato, mas Susan não sabia o motivo.
Eis que três dias depois da tragédia, ela é presa e acusada de homicídio. Imediatamente, Susan, já com 21 anos, foi levada a uma prisão de segurança máxima próxima a Kampala.
Para efetuar a prisão, a polícia tomou como base o testemunho do filho de Constantine, então com 5 anos, que afirmou ter visto Susan tentar matar o pai.
Quando saiu o veredito, descobriu que seria condenada à morte por enforcamento. Tudo isso aconteceu em 2000.
Mas a perspectiva de encarar o corredor da morte não a abateu.
Na prisão, Susan dedicou a estudar Direito para tentar encontrar uma forma de salvar a si mesma e a outras centenas de mulheres em situação similar no país. Sua dedicação era tão grande que chamou a atenção de uma ONG, que lhe ofereceu um curso por correspondência pela Universidade de Londres. O projeto foi um sucesso.
Confiante, ela acabou criando um pequeno consultório na prisão, e ajudou a centenas de mulheres a resolverem suas questões legais e receberem liberdade.
Determinada a provar a própria inocência, ela resolveu entrar com um pedido coletivo questionando a pena de morte obrigatória para certos crimes. A ideia era declarar a pena inconstitucional.
Num dos casos mais emblemáticos do país, o trabalho de Susan foi fundamental para flexibilizar uma lei duríssima. Agora, pessoas condenadas à morte teriam direto a um segundo julgamento.
Foi assim que ela mesma encarou um novo julgamento, depois de 11 anos presa. A Suprema Corte reduziu sua sentença para 20 anos. Descontado o tempo em que ficou presa preventivamente, a pena terminou em 2016 e Susan finalmente foi solta.
Mas o trabalho estava apenas começando. Susan queria justiça também para outras 417 prisioneiras. Dessa forma, surgiu uma ideia genial: criar a primeira escola de Direito do mundo a funcionar dentro de uma prisão. O objetivo é ajudar a pessoas que não podem bancar um advogado a representarem a si mesmas nos tribunais.
Hoje, Susan mora com a irmã e a filha, que já está com 19 anos. O caso do assassinato de Constantin nunca foi totalmente esclarecido.
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Fonte: G1 | Imagens: Arquivo pessoal